sábado, 6 de junho de 2009

A Estrada Romana... que é feito dela?




Fartei-me de caminhar... ao longo de vários anos, por um pedaço de estrada que me disseram ser romana. Estudava em Viana, primeiro na Frei Bartolomeu dos Mártires (ciclo preparatório) e mais tarde na Escola Industrial e Comercial de Viana do Castelo (secundário) e durante a maior parte desse tempo fiz o trajecto a pé entre casa e esses estabelecimentos de ensino de saudosa memória.

Por vezes a caminhada era mesmo nocturna, sobretudo na ida para a cidade, e atravessava o Faro quase às apalpadelas (dos pés, claro... rs) iluminado quando necessário por uma lanterna ou um pneu de bicicleta a fazer de tocha.

De qualquer modo, sobretudo com a generosidade solar, habituei-me a contemplar as lajes, os pedaços de pedra e até passeios e condutas de água que compunham a designada via romana. Tal era mais perceptível entre a primeira descida acentuada, logo a seguir às alminhas (onde actualmente inventaram uma curva de que nem o Diabo se lembraria no auge das suas deambulações arquitectónicas) e a curva mais abaixo, onde actualmente se encontra um entroncamento que dá acesso à Escola Carteado Mena.

Confesso que as pedras, sobretudo as que lendária ou historicamente se associam a eventos destacáveis, sempre me fascinaram, como se o mero facto de lhes tocar a textura musgosa, rugosa ou simplesmente fria ou poeirenta me pusesse em contacto molecular ou energético com o passado aludido. Mas de tanto as ver, de tanto as sentir, quotidianamente, habituei-me também as desvalorizá-las...

Até que um dia, fiquei estupefacto!... a estrada romana tinha desaparecido, retiraram-na de lá... ou, pior ainda, afogaram-na em alcatrão (!)... E já lá vão uns anos que assim continua. Sempre que passo por lá me lembro delas e delas sinto saudades.

Na realidade não desapareceram completamente, julgo eu. Há um pequeno troço, paralelo àquela estúpida curva, que se mantém abandonado, em todos os sentidos, inclusivamente do alcatrão, onde ainda se podem ver algumas dessas antigas pedras, embora muito mal conservadas.

Este é um fenómeno muito estranho, sobretudo em Portugal, o de desvalorizar o passado, a museologia, arqueologia e antropologia, não entendendo que, ao estarmos inseridos numa sociedade, só podemos evoluir para o futuro respeitando e preservando cientificamente o passado.